quinta-feira, agosto 28, 2014
desafio juvenil
esta semana de férias desafiei a minha cunhada de 14 anos para um desafio.
como ela faz parte desta nova onda de multidão juvenil que mais facilmente vive sem um pulmão, que sem o telemóvel, perguntei-lhe se aceitava o desafio de ficar um dia inteiro sem tocar no mesmo. a conversa foi mais ou menos assim:
“tenho um desafio para ti…queres?”
“sim, o que é?”
“ficares um dia inteiro sem tocar no telemóvel…consegues?”
“claro que consigo. óbvio.”
“ok, vamos estabelecer regras?”
“sim”
“ok…terão de ser 24h ou seja, começa à meia noite e acaba à meia noite do dia seguinte”
“ok”
“podes escolher o dia que quiseres, tens é de me avisar antes da meia noite”
“ok”
“tens de meter tudo o que é electrónico e/ou consigas ir ao twitter, facebook, whatsapp, etc… num local que não toques, ou entregar a alguém que só te devolva esses artigos no fim do desafio”
“ok”
“e mesmo assim, aceitas?”
“sim…com uma condição”
“qual?”
“tu fazes igual, comigo…os dois”
“ok, aceito”, disse eu.
mais ninguém foi metido ao barulho.
não considero que este desafio tenha sido uma luta…não se tratava de uma corrida, de quem ganhava ou perdia, mas sim de uma tentativa de tentar provar que uma adolescente ia passar um dia terrível sem tecnologia. comparo este tipo de dor ao que a anne frank sentiu no esconderijo onde viveu 2 longos anos. os suores frios que sentia a cada passada larga que não conhecia, eram os mesmos suores frios que a adolescente sentia, a cada minuto que passava e que não podia ver quantas mensagens tinha no whatsapp, quantos retweets tinha no twitter e quantos pedidos de amizade novos tinha no facebook. a incerteza que anne frank tinha sobre se nesse dia iria jantar ou não, era a mesma incerteza que a adolescente tinha, se as amigas dela já saberiam alguma novidade escaldante sobre o novo penteado do justin bieber ou sobre a nova digressão dos one direction. a angústia que anne frank tinha quando pensava se algum dia iria crescer para casar, ser mulher e mãe e se algum dia iria ver o seu país e a europa livres de tal reinado de terror, era a mesma angústia que a adolescente sentia quando estava na praia, deitada na toalha e não tinha música para ouvir…
isto eram tudo suposições minhas, 10 minutos antes do desafio começar…
passados trinta minutos do desafio começar, já estava no telemóvel.
ao pequeno almoço já estava a fazer retweets.
a caminho da praia já estava no whatsapp.
na praia já tinha feito 32 likes no facebook.
ao almoço já tinha enviado 12 snapchats.
à hora do lanche já se tinha rido no 9gag.
no jantar viu que a melhor amiga tinha criado um tumblr.
e quando foi dormir, deu uma vista de olhos no instagram.
eu cumpri as minhas 24h como um monge budista…
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